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Medicina

Atendimento médico: como se preparar para atuar na linha de frente da saúde

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Quer mandar bem de verdade na profissão e não só passar na prova? Então se liga: dominar o atendimento médico vai muito além de saber nomes de doenças e condutas decoradas. Se preparar para atuar na linha de frente da saúde exige técnica, escuta, postura e atitude.

Esse é um procedimento de extrema importância e que sofre problemas no Brasil. Para você ter uma ideia, de acordo com dados da CNN, 62% dos brasileiros não procuram atendimento quando precisam. 

Neste post, você vai entender como se preparar desde já para oferecer um atendimento médico humano, eficiente e que realmente faz a diferença. Continue lendo!

Como funciona um atendimento médico?

O atendimento médico deve seguir uma série de etapas que podem variar de acordo com o caso, mas, no geral, é importante realizar os seguintes procedimentos: 

Recepção do paciente

Antes mesmo de abrir a boca, o paciente já começa a ser "avaliado". Você vai perceber sinais não-verbais, expressão facial, postura, se ele está com dor, tudo conta.

Mas o mais importante: crie um ambiente seguro, acolhedor e sem julgamento. Isso faz toda a diferença.

Dica de ouro: apresente-se para o paciente. Diga seu nome, sua função ("sou estudante do Xº semestre, estou acompanhando o Dr. Fulano hoje") e pergunte se o paciente está confortável com isso.

Anamnese

A anamnese é o momento de ouvir a história do paciente com atenção ativa. Você vai guiar a conversa, mas deixando o paciente falar com liberdade. Aqui, você colhe:

  • Queixa principal: o que trouxe ele até você ("tô com dor no peito", por exemplo)
  • História da doença atual (HDA): evolução, características, localização, fatores que agravam/amenizam
  • História patológica pregressa: doenças anteriores, cirurgias, internações
  • História familiar: doenças genéticas, hereditárias
  • História social: hábitos de vida, profissão, tabagismo, etilismo, drogas, etc.
  • Uso de medicamentos: contínuos, recentes, automedicação
  • Alergias
  • Revisão de sistemas: perguntinhas dirigidas sobre sintomas nos principais sistemas (respiratório, digestivo, urinário, etc.)

Aqui, o segredo é treinar o ouvido clínico e aprender a fazer as perguntas certas. Com o tempo, você percebe quando algo merece mais atenção.

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Exame físico

Agora é a hora de colocar a mão na massa, sempre com técnica e respeito.

Primeiro, só de olhar, você já pode fazer uma inspeção. Colete informações como coloração da pele, movimentos respiratórios, postura, etc.

Use as mãos para sentir massas, dor, pulsos, linfonodos etc. E com os aparelhos necessários escute os sons de estruturas (geralmente usadas no pulmão e abdômen). 

Você sempre adapta o exame ao que foi sugerido pela anamnese. Se o paciente vem com dor abdominal, por exemplo, é ali que seu exame vai se concentrar.

Hipóteses diagnósticas e conduta

Com os dados colhidos, você começa a montar o quebra-cabeça: quais são os possíveis diagnósticos? E o que você vai fazer com essa informação?

Aqui entra:

  • Solicitação (ou não) de exames complementares
  • Início de tratamento empírico (se for o caso)
  • Encaminhamentos para outras especialidades
  • Conduta expectante (observar e reavaliar)
  • Prescrições e orientações claras

Como estudante, o mais importante é treinar a formulação de raciocínio clínico. Mesmo que você não possa prescrever ainda, aprenda a pensar: “O que eu faria se fosse o médico responsável?”.

Explicações ao paciente

Nunca finalize um atendimento sem garantir que o paciente entendeu o que está acontecendo!

Explique com palavras simples, sem termos técnicos, o que você investigou, o que está suspeitando e o que será feito a seguir. Isso cria confiança e evita confusões.

Registros em prontuário

Tudo o que foi feito precisa ser registrado de forma clara, objetiva e completa.

A estrutura padrão é:

  • S: Subjetivo (anamnese, queixas, sintomas)
  • O: Objetivo (dados do exame físico e exames complementares)
  • A: Avaliação (hipóteses diagnósticas)
  • P: Plano (conduta: exames, tratamento, encaminhamento, etc.)

A boa escrita médica é uma habilidade essencial. Não subestime isso.

Como se preparar para um atendimento médico?

Se você quer ser um médico realmente bom no futuro, não basta saber anatomia, farmacologia e decorar o fluxograma de conduta. A preparação para um bom atendimento médico vai muito além do conteúdo teórico. 

Abaixo, vamos te explicar como se preparar de verdade:

Para começar, é essencial aceitar que você não vai se tornar bom da noite pro dia. É um processo contínuo. 

Você não está apenas decorando doenças, está aprendendo a lidar com pessoas em momentos de fragilidade, incerteza e, muitas vezes, medo. Se você não tiver sensibilidade para isso, vai ser só mais um profissional tecnicamente correto, mas humano demais da conta. E esse tipo é fácil de esquecer.

Uma das primeiras coisas que você pode fazer, desde agora, ainda na graduação, é parar de se esconder atrás do “eu ainda sou estudante”. Isso não significa bancar o sabichão, mas assumir que cada vez que você entra numa sala com um paciente, você tem a chance de treinar, aprender, errar e melhorar. 

Não deixe os preceptores serem os únicos protagonistas do atendimento. 

  • Puxe conversa 
  • pergunte 
  • ouça ativamente 
  • monte hipótese diagnóstica mesmo que ninguém tenha pedido. 

E aí, depois, compare com o que foi feito. Isso afia seu raciocínio clínico de um jeito muito mais real do que estudar resumo de cursinho.

Treine a escuta ativa

Saber ouvir é uma das habilidades clínicas mais subestimadas.

Ouvir com atenção de verdade, sem interromper o paciente, sem pensar no diagnóstico enquanto ele fala, é o que vai te fazer enxergar nuances que o prontuário nunca vai mostrar.

  • Comece treinando com amigos, familiares, pacientes simulados.
  • Aprenda a deixar pausas no silêncio sem ansiedade.
  • Dê espaço pro paciente desenvolver a história. Isso revela muito.

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Desenvolva sua comunicação

Falar com clareza, de forma simples e objetiva, é uma arte, e dá pra treinar.

  • Explique doenças, exames e condutas em linguagem acessível.
  • Treine com colegas: "como eu explicaria uma hipertensão para um paciente sem escolaridade?"
  • Evite jargões técnicos. Não impressiona ninguém fora da bolha médica e atrapalha o entendimento.

Pratique sempre o exame físico 

Muita gente acha que exame físico é só coisa do primeiro ciclo. Errado. O toque clínico ainda é essencial e ajuda a economizar exame caro, tempo e erros.

  • Peça para participar dos atendimentos e plantões.
  • Pratique entre colegas (com ética e respeito, sempre).
  • Aprenda os "porquês" de cada manobra. Entender o que você está procurando ajuda a melhorar sua percepção.

Para chegar em um alto nível, você tem que praticar. Participar ativamente dos estágios, das ligas, dos ambulatórios. Pedir para examinar, para atender, para escrever a evolução. 

E mais do que isso: pedir feedback. Mesmo que doa. Mesmo que o preceptor seja duro. Porque cada vez que você ouve “isso aqui podia ter sido melhor”, você ganha um mapa de onde precisa crescer.

Se quiser ser bom, comece agora. Não precisa estar formado. Comece perguntando, escutando com atenção, comunicando com clareza, estudando o básico bem feito e tratando cada paciente como alguém único. O resto vem.

Gostou desse post? Então clique aqui para entender o que é laudo médico!