17.12.2015
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Qual é a solução para os diversos problemas que a saúde brasileira enfrenta todos os dias nos hospitais, nas clínicas e nos postos de saúde? Esta é uma pergunta que passa pela cabeça de pessoas de todos os municípios, de todas as idades, de todas as profissões, de todas as classes sociais. Não há quem não se espante com os diversos obstáculos encontrados pela população – e pelos médicos – para amenizar a prevalência de doentes no país. Mas é a partir de duas palavras, de dois simples vocábulos, que essa realidade pode começar a mudar: a atenção básica.
Não é por acaso que as diretrizes curriculares dos cursos de medicina sofreram alterações em 2014, ano em que o MEC passou a exigir estágio no Sistema Único de Saúde (SUS), na atenção básica e no serviço de urgência e emergência, a fim de proporcionar aos acadêmicos uma visão mais preventiva em vez do olhar puramente hospitalocêntrico.
A partir dessa filosofia, os universitários entram em contato mais cedo com a ponta mais sensível da saúde pública, adquirem uma forte experiência humanitária e ajudam a prevenir doenças, sob a orientação dos professores, culminando na redução de doentes no futuro e, consequentemente, diminuindo a sobrecarga dos hospitais, uma das feridas mais evidentes da saúde pública atual.
Em Itaperuna, um exemplo notório deste trabalho é o curso de Medicina da Faculdade Redentor. Em menos de um ano, ele já mudou – e muito – a realidade de um bairro como o Jardim Surubi, onde a atenção básica passou a ser promovida sob um viés multidisciplinar, reunindo profissionais de psicologia, fisioterapia, nutrição, serviço social, entre outros, para dar a verdadeira atenção que a saúde necessita no sentido mais amplo da palavra.
O relato dos professores que supervisionam os alunos basta para entender como essa proposta pode mudar toda uma realidade social. “A primeira coisa que fizemos foi conhecer as famílias. Realizamos um verdadeiro diagnóstico local, em que identificamos quais eram as famílias que tinham idosos, gestantes e crianças, quais estavam com as vacinas em dia, quais tinham saneamento, bichos em casa, riscos ambientais etc. Depois dessa fase, passamos para as patologias, identificando as doenças prevalentes e quais as pessoas não iam aos postos. Foi feito um mapa com esse diagnóstico e visitamos os públicos alvos, no caso, gestantes, crianças menores de 01 ano, sequelados, idosos, tuberculosos, enfim, pessoas que estão em um quadro de vulnerabilidade. Os casos mais complicados nós levamos para a Unidade e encaminhamos para a nutrição, a fisioterapia. Os pacientes que não conseguem ir para a Unidade, agendamos com profissionais em domicílio. Isso sem falar do serviço social, pois muitos ali desconhecem direitos sobre aposentadoria, por exemplo. Esse trabalho mostra o quanto a atenção básica pode ser revolucionária. Essa, inclusive, é uma das missões do curso, pois queremos formar alunos aptos a trabalhar para a saúde das pessoas e não para as doenças”, declaram.
A mudança de cultura, segundo os professores, é gradativa. Para ela ser eficaz, no entanto, os governos precisam dar mais atenção não só às unidades básicas de saúde, como também a todos os outros setores, mesmo a medicina de alta complexidade, porque todos são importantes para uma saúde plena e equilibrada, além da própria estrutura socioeconômica. “A atenção básica não resolve tudo sozinha. Entram aí as questões governamentais, saneamento básico, lazer, acesso a remédios, a exames, a tratamentos de ponta. Ou seja: é uma série de fatores que, juntos, atuarão para um só objetivo: ajudar o outro”, finalizaram.
Texto produzido em: 10/12/2015
Link original: http://maniadesaude.com.br/materias/saude-e-para-todos