15.9.2016
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Neste mês, acontece a campanha “Setembro Amarelo”, combatendo o suicídio e conscientizando as pessoas mais próximas a prestarem atenção aos sinais, exatamente, por ser em 10 de setembro, o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 9 de cada 10 casos seriam possíveis prevenir.
O portal Setembro Amarelo diz em números oficiais: são 32 brasileiros que se matam por dia, uma taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer.
A cor amarela indica atenção, como nos sinais\faróis de trânsito. Todos devem ficar atentos aos quase imperceptíveis pedidos de socorro emitidos, como dormir exageradamente, dizer que os outros ficariam mais felizes sem a presença deles e constante vontade de sumir. Ou seja, morrer.
Sobre isso, conversamos com a coordenadora do Curso de Psicologia da Redentor, Denise Mello:
1) Defina o suicídio:
R: A Organização Mundial da Saúde define como um ato deliberado, intencional, de causar morte em si mesmo.
Há uma diferença entre o suicídio e as tentativas: a intenção de morrer seria presente no primeiro caso e ausente no segundo. Assim, as tentativas são atitudes autoagressivas: um ato deliberado de provocar uma lesão ou intoxicação em si mesmo, com ou sem intenção de pôr fim à vida com desfecho, porém, não fatal. Uma forma desesperada de se chamar a atenção.
A OMS adota a abordagem ecológica para a compreensão desse significativo problema de saúde pública: é um processo que ocorre em um ambiente com elementos culturais e físicos que determinam comportamentos, entre os quais os “comportamentos suicidas”.
Isso afeta diretamente de cinco a dez pessoas, entre familiares, amigos, colegas de trabalho ou de escola e outras próximas, que se autointitulam “sobreviventes do suicídio”. Significa que cerca de quatro a oito milhões de pessoas são afetadas.
Os sobreviventes do suicídio têm maior probabilidade de desenvolver responsabilidade pela morte do ente querido do que os que perderam alguém por causas naturais, além de se sentirem mais envergonhados e isolados dos demais.
A OMS recomenda que as autoridades sanitárias e de assistência psicossocial forneçam todo o apoio à formação de grupos de ajuda mútua e à manutenção.
2) Quais são as principais causas?
R: Não há uma única causa. O problema do suicídio é considerado multicausal decorrente de comportamentos multifatoriais e multideterminados. Envolve uma complexa teia de fatores de risco e fatores de proteção que interagem de uma forma que dificulta a identificação particular e a influência relativa de cada um deles. É um problema complexo, multifatorial, multideterminado, transacional e imemorial. Esta última característica tem sido mais efetivamente trabalhada nessa campanha, pois é necessário falar do suicídio de forma preventiva e educativa.
3) Como identificar os sinais?
R: Existem importantes Fatores de Risco:
Predisponentes: criam o terreno no qual vai se instalar um processo suicida. Também chamado de fatores distais por agirem muito antes do ato suicida. Separação conjugal, luto, conflitos familiares, mudanças de situação empregatícia ou financeira, rejeição por parte de pessoa significativa, vergonha ou temor de ser considerado culpado, fácil acesso a métodos de suicídio.
Precipitantes: situações propícias provocam a sequência final de comportamentos que levam ao suicídio. Também chamados de fatores proximais pela proximidade temporal com o ato suicida, sendo assim, os mais percebidos como causa do suicídio.
Outros fatores: Tentativas prévias de suicídio, transtornos psiquiátricos, doenças físicas, história familiar de suicídio, isolamento social, desemprego, aposentadoria, luto ou abuso sexual na infância, alta recente de internação psiquiátrica.
4) Como ajudar?
É um tema polêmico, carregado de forte preconceito. A principal postura diante de quem tentou suicídio ou tem parentes ou amigos próximos que suicidaram é manter uma postura de acolhimento, sem julgamentos, na tentativa de superação do episódio.
Embora haja uma correlação entre transtornos psiquiátricos e suicídio (depressão, bipolaridade, entre outros), é fundamental compreender que o comportamento suicida nem sempre é resultante desses problemas. Ainda não temos dados epidemiológicos ou demográficos bem definidos que permitam estabelecer uma correlação direta. Há vários históricos de pessoas que entraram em profunda crise ou conflito decorrentes das mais diversas situações da vida cotidiana.
Como ainda há um preconceito em relação à psicologia como uma profissão somente para quem tem algum transtorno, evitar esse rótulo pode favorecer o encaminhamento e boa adesão à abordagem profissional.
Temos que evitar rótulos e julgamentos do tipo “covardia ou coragem, força ou fraqueza”. Esses rótulos colaboram apenas para aumentar o sentimento de culpa, o conflito e, potencialmente, podem levar a novas tentativas.
5) Como o suicídio é abordado no curso de Psicologia da Redentor?
R: Faremos um seminário visando a um aprofundamento teórico e a uma discussão clínica com a intenção de trabalhar a importância do tema, especialmente da prevenção. Em um nível prospectivo, o curso manterá um fórum permanente de discussão em torno de problemas relevantes de saúde pública, sendo o suicídio um deles, com posterior desenvolvimento de campanhas de prevenção.
Vamos destacar os fatores de proteção que podem prevenir o suicídio e que devem ser trabalhados pelo psicólogo na perspectiva da promoção da saúde:
Estilo cognitivo e personalidade: sentimento de valor pessoal; confiança em si mesmo; disposição para buscar ajuda quando necessária; para pedir conselhos diante de decisões importantes; abertura à experiência alheia para adquirir novos conhecimentos e habilidade para se comunicar.
Padrão familiar: bom relacionamento intrafamiliar; apoio de parte da família; pais dedicados e consistentes.
Fatores culturais e sociais: adesão a valores, normas e tradições positivas; bom relacionamento com amigos; colegas e vizinhos; apoio de pessoas relevantes; amigos que não usam drogas; integração social no trabalho, em alguma igreja, em atividades esportivas e clubes. Estimular objetivos na vida.
Fatores ambientais: boa alimentação; bom sono; luz solar; atividades físicas; ambiente livre de fumo e drogas.
6) Qual importância de a Redentor entrar na campanha?
R: O universitário deve ficar em contato permanente, desde o início, com os inúmeros comportamentos humanos mantendo uma postura de não julgar. É uma preparação para que se compreenda como a abordagem psicológica deverá oferecer, em qualquer caso, atenção e dedicação de tempo. No caso específico de comportamentos de risco ou alto risco de suicídio, isso deverá ser redobrado. É necessário estabelecer uma boa relação com a pessoa para facilitar a expressão de sentimentos e percepções, sobretudo, negativas em relação à vida e às pessoas.
A OMS recomenda algumas atitudes: nunca considerar que a situação não oferece riscos ou apenas uma tentativa de manipulação; manter a calma e fazer com que a pessoa fale, transmitindo uma mensagem de preocupação e compreensão; evitar críticas e posturas preconceituosas.
Ao aderir à campanha, a Faculdade Redentor cumpre o seu compromisso social e acadêmico, aumentando o acesso público e profissional às informações sobre todos os aspectos da prevenção de comportamento suicida. Colabora para sensibilizar a comunidade com relação a questões de bem-estar mental, comportamentos suicidas, as consequências de estresse e gestão efetiva de crise, papel fundamental da universidade . A universidade é um espaço privilegiado que envolve uma abordagem séria e consistente, embasada em conhecimentos científicos consolidados.
A maioria dos estudos é unânime em reconhecer que uma tentativa de suicídio é um dos mais fortes preditores de outro futuro comportamento suicida, ainda que se possam ecoar décadas entre um caso e outro. Ao aderir à campanha, a Redentor assume, de forma direta, apoiar toda iniciativa de prevenção.
7) Para finalizar:
R: Ainda temos muito a avançar. Estudos demonstram que o tabu, a subnotificação, atendimentos mal sucedidos, pouca abordagem da mídia, dificuldade de desenvolvimento de métodos preventivos, dificuldade de detecção precoce, abuso de substâncias químicas e outros estão na raiz das dificuldades para se tratar o problema.
Dar visibilidade é de extrema relevância, para evitar perda de anos potenciais de vida, reduzir impactos na família, na sociedade e no potencial epidêmico.
Ressalto, por fim, que há necessidade de avançarmos em termos de políticas de saúde mental voltadas para a promoção, prevenção e educação, mais do que para doenças ou transtornos. Essa mudança de enfoque pode colaborar para uma mudança da cultura em torno da abordagem do suicídio. E, nisso, o Curso de Psicologia da Faculdade Redentor estará sempre empenhado.
--
[1] BERTOLOTE, J. M. O suicídio e sua prevenção. São Paulo: UNESP, 2012.
[1] Idem.
[1] Disponível em http://www.setembroamarelo.org.br/. Acesso em Setembro de 2016.
[1] Organização Mundial de Saúde (OMS). Ação de saúde pública para a prevenção de suicídio: uma estrutura, 2012.